Conheça a história do Ijexá
O ritmo Ijexá é uma forma musical originada na cultura afro-brasileira, mais especificamente nas tradições dos povos Jeje, provenientes do antigo Reino do Daomé (atualmente Benin). Também conhecido como Jexá, Jeje ou Ijeji, o Ijexá é frequentemente associado ao candomblé, uma religião afro-brasileira.
A história do ritmo Ijexá remonta ao período da escravidão no Brasil, quando africanos da etnia Jeje foram trazidos como escravos para o país. Eles trouxeram consigo sua cultura, tradições religiosas e, é claro, suas expressões musicais. O Ijexá é uma das manifestações musicais desses povos, que se desenvolveu principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.
O ritmo Ijexá é caracterizado por uma batida cadenciada e um padrão rítmico específico. É tocado em compasso binário, com acentuação no segundo tempo. Os instrumentos utilizados na execução do Ijexá incluem atabaques, agogô, xequerê, entre outros. As letras das músicas geralmente abordam temas ligados à religião, à ancestralidade e à cultura afro-brasileira.
Ao longo do tempo, o Ijexá transcendeu seu contexto religioso original e passou a ser incorporado em outros gêneros musicais brasileiros, como a música popular, a MPB (Música Popular Brasileira) e o samba. A sua influência pode ser notada em diversas composições, inclusive de renomados artistas brasileiros.
O ritmo Ijexá possui uma forte carga cultural e simbólica, representando a resistência e a preservação das tradições africanas no Brasil. É uma manifestação musical que continua viva e presente na cultura brasileira, contribuindo para a diversidade e a riqueza do patrimônio musical do país.
Arte e Cultura popular Brasileira
O Brasil é um território rico em ritmos, danças, poesia, literatura, peças folclóricas e cultura popular. Todo esse universo artístico merece ser amplamente divulgado e conhecido pelas novas gerações. As diferentes músicas que ecoam das regiões do Brasil estão carregadas de sutilezas e pulsações ainda pouco conhecidas. Da mistura dos diversos elementos sonoros, do intercâmbio entre tradições, de práticas antigas e modernas é que surgem tais manifestações num movimento artístico e cultural que está em permanente transformação. Infindável transmutação.
Ritmos como o Ijexá aparecem no país advindo de ritos africanos, em que se homenageia os Orixás por meio da dança, com um ritmo característico só dele; sofrem transformações com o passar dos anos. No caso do Ijexá o rito se confundiu com ritmo, onde o ritmo se sobressaiu ao que tradicionalmente era o mais importante, que é o rito. Isso é a causa da subgenerização das tradições, bem como na música de uma forma geral. É plausível que se mude, traga novidades evolutivas para o desenvolvimento das peças tradicionais como o Ijexá, Cirandas e Maracatús dentre outras, mas não deixando de lado seus aspectos característicos, servindo este, como a base da estrutura, respeitando limites essenciais para a classificação e entendimento dos tais ritmos.
Os terreiros de candomblé na Bahia
Os terreiros de candomblé da Bahia surgiram a partir da chegada dos africanos escravizados no Brasil durante o período colonial. Com o tráfico transatlântico de escravos, muitos africanos foram trazidos para a região da Bahia, trazendo consigo suas tradições religiosas e culturais.
O candomblé é uma religião de matriz africana que tem suas raízes nas tradições religiosas dos povos iorubás, jejes e nagôs, entre outros. Os escravos trazidos da África para a Bahia mantiveram suas crenças e práticas religiosas, adaptando-as ao contexto do novo país.
No período da escravidão, os escravos eram proibidos de praticar suas religiões africanas, pois a Igreja Católica era imposta como a religião oficial. No entanto, eles encontraram maneiras de preservar suas crenças de forma sincrética, mesclando elementos africanos com os santos católicos.
Os terreiros de candomblé começaram a se formar como espaços de resistência e preservação das tradições religiosas africanas. Eram locais onde os escravos e seus descendentes podiam se reunir, cultuar seus deuses e manter vivas as práticas espirituais de seus antepassados.
Com o tempo, esses terreiros foram se consolidando como importantes centros religiosos e culturais. Líderes religiosos, conhecidos como pais ou mães de santo, desempenharam um papel fundamental na organização e orientação dos terreiros. Eles eram responsáveis por conduzir as cerimônias, transmitir os conhecimentos ancestrais e guiar a comunidade religiosa.
A Bahia, em particular, tornou-se um importante centro para o candomblé devido à grande quantidade de africanos trazidos para essa região durante o período da escravidão. A cidade de Salvador, por exemplo, é conhecida por abrigar uma grande concentração de terreiros de candomblé e por ser um importante local de preservação das tradições religiosas afro-brasileiras.
Atualmente, os terreiros de candomblé da Bahia continuam desempenhando um papel significativo na preservação e prática das tradições religiosas afro-brasileiras. Eles são reconhecidos como patrimônio cultural, contribuindo para a diversidade religiosa e cultural do Brasil.
Origem da palavra Ijexá
A palavra Ijexá tem origem no vocábulo Ijèsá, uma subdivisão da etnia iorubá e o nome da cidade nigeriana que é considerada o berço do grupo. Nessa cidade se cultuam sobretudo Oxum e Logun-Edé – e o Ijexá designa o ritmo das danças principais desses orixás. Tocam-se, também, ijexás (ainda que não seja o ritmo predominante) para Exu, Osain, Ogum, Oyá, Obá, Oxalá, Orunmilá. O Ijexá é realizado nos terreiros somente com as mãos, dispensando o uso dos aguidavis (as baquetas de percussão). O ritmo é suave e cadenciado, emoldurando a dança dengosa e sensual de Oxum e Logum. O gã (agogô) acompanha sempre os atabaques, marcando o compasso.
É importante lembrar que Ijexá não é apenas um ritmo mas sim uma nação. Não podemos falar de Ijexá sem falar dos Afoxés. A origem e a postura dos afoxés estão diretamente ligadas aos preceitos do candomblé, inclusive na utilização dos instrumentos (atabaques, agogôs, xequerês etc.). Seus componentes usam trajes de inspiração africana, e cantam músicas geralmente em dialetos africanos.
“O ritmo homônimo, de toque cadenciado, amplamente conhecido na cidade e vinculado aos afoxés e ao Carnaval, tem as suas origens diretamente articuladas aos integrantes desta nação, que tinham o costume de caminhar em procissão pela cidade – por exemplo, para presentear Iemanjá no Rio Vermelho. Foi por causa dessa característica que se confundiu uma nação de Candomblé com um ritmo musical. Os ijexás saíam nas ruas levando os presentes e tocando os tamborzinhos. Aí se dizia: são os ijexás. O rito se confundiu com o ritmo e o ritmo nos anos 80 passou a substituir o rito. Infelizmente, hoje quando se fala ijexá se pensa logo no ritmo e não na nação”, complementa Vilson.
Leitura complementar
“Tombamento do Ilê Axé Kalè Bokùn garante preservação do mais antigo terreiro ijexá do país“. Texto completo em: http://www.atarde.uol.com.br/muito/noticias/
O RITMO DO IJEXÁ
A seção rítmica do Ijexá tem origem africana e é tocada nos terreiros de candomblé da Bahia conforme as referências musicais africanas. De ritmo praticado nos terreiros da Bahia e do Brasil, o ijexá acabou também chegando ao carnaval, a partir da criação dos afoxés baianos (cortejos carnavalescos de adeptos do candomblé) no final do século XIX. Algumas pessoas e até mesmo alguns livros fazem certa confusão ao citar o afoxé como um ritmo. O afoxé é o cortejo – o ritmo que emoldura o cortejo é o ijexá. A expressão afoxé, inclusive, vem do iorubá àfose (encantação pelo som, pela palavra) . Os cubanos usam a expressão afoché para designar o ato de enfeitiçar alguém com o pó da magia. Ao toque do Ijexá, os antigos afoxés buscavam encantar os concorrentes, desfilando pelas ruas em formato processional. O afoxé Filhos de Gandhi, fundado por ogãns de candomblé na década de 1940, até hoje se apresenta no carnaval ao som do ijexá – e começa sempre o cortejo tocando para Logun-Edé.
Instrumentação típica
- Agbê – Também conhecido como xequerê, este instrumento é composto por uma teia de miçangas que envolve uma cabaça. Instrumento que veio dos terreiros, para compor junto com o batuque do maracatu, uma função de condução similar ao do ganzá.
- Caixa – Tambor agudo que possui na pele de resposta uma esteira ou bordão produzindo um som rufado e característico. Possui frases rítmicas com grande quantidade de notas o que dá a este instrumento a possibilidade de coordenar e harmonizar as alfaias. São as caixas de guerra, juntamente com os taróis, que dão a chamada para a entrada dos outros instrumentos.
- Gonguê – Instrumento formado por uma campânula de ferro e um cabo que serve de apoio. Tem o formato aproximado de um sino de ponta a cabeça ou um agogô de uma só boca. As frases rítmicas do gonguê são geralmente formadas por contratempos e sincopas com grande liberdade de improviso.
- Alfaias – Também chamadas de bombos ou zabumbas. São tambores graves, de grandes dimensões, originalmente feitos do tronco da Macaíba (árvore que se parece com a Palmeira). Seus aros são feitos de Genipapo e o bojo é trançado por uma corda de sisal. Com frases sincopadas e bem marcadas, são responsáveis pelas características principais de cada toque ou baque. Muitas vezes dividem-se em três grupos, pelo seu tamanho ou afinação tendo cada grupo uma função rítmica diferente.